"Tudo em um" e a próxima grande onda da IA Generativa na advocacia
- Mauro Martins
- 11 de mai.
- 5 min de leitura
A adoção da IA pelo mundo jurídico no ano passado não apenas aumentou, ela explodiu.
Os escritórios de advocacia que estavam experimentando cautelosamente a IA em 2023 e 2024, agora a estão integrando em seus fluxos de trabalho diários.
A mudança foi ainda maior entre escritórios de médio porte, que inicialmente assistiram aos maiores testarem as ferramentas ou construírem suas próprias soluções, mas agora estão mergulhando de cabeça em suas iniciativas de IA.
O que é fascinante é como o padrão de adoção evoluiu na era da IA.
Ao invés de um ordem de cima para baixo, como na adoção de controle de "timesheet", o entusiasmo agora vem dos associados e advogados mais jovens usando IA para redigir documentos e realizar pesquisas jurídicas.
Sócios que antes eram céticos, agora pedem análise preliminares apoiadas por IA, após verem os ganhos de qualidade e eficiência que ela pode oferecer.
E até mesmo os escritórios mais tradicionais acham difícil ignorar quando seus concorrentes entregam serviços jurídicos mais rápidos e abrangentes usando ferramentas de IA.
O ponto de virada
O verdadeiro divisor de águas foi a introdução de plataformas especializadas de IA jurídica, adaptados às necessidades do direito e treinados com documentos jurídicos.
E surgiram não são apenas chatbots para conversar, mas ferramentas sofisticadas, com recursos como verificação automatizada de citações e recursos de pesquisa específicos da jurisprudência aplicável à situação.
A questão mudou de "devemos usar IA?" para "com que rapidez podemos treinar nossas equipes nessas ferramentas?"
Os advogados agora já estão pensando na IA como a arma secreta do seu escritório para as tarefas que nunca souberam que poderiam ser automatizadas.
Sempre que eu perguntava aos advogados onde eles gostariam de aplicar, as respostas eram sempre "revisão de documentos" e "pesquisa jurídica"
Hoje, a IA está revolucionando, por exemplo, a preparação de testemunhas ao analisar milhares de depoimentos anteriores para identificar padrões de inconsistência e áreas onde as testemunhas podem tipicamente tropeçar em suas declarações.
Outro uso interessante e no qual a IA se tornou notavelmente boa é o de prever os prováveis argumentos do advogado adversário, analisando seus casos anteriores e padrões de escrita de resumos.
Talvez o mais surpreendente seja que já existem ferramentas de IA que analisam padrões de escrita judicial e os históricos de decisões sobre um determinado tema no judiciário, e sugerir a redação e estrutura de argumento mais persuasivas e com chances de êxito.
Elas ajudam a elaborar narrativas mais convincentes ao identificar quais argumentos e estilos de apresentação de evidências foram historicamente mais bem-sucedidos com tribunais ou juízes específicos.
Sensacional, não é mesmo? Os advogados que sabem disso, têm de fato uma arma secreta e poderes especiais contra advogados que não sabem.
Essas capacidades não são apenas teóricas, elas já estão transformando a maneira como os escritórios que têm visão de futuro abordam tudo, desde estratégias de contencioso até o desenvolvimento da carteira de clientes.
O que está por vir?
No meu ponto de vista, acredito que nos próximos meses veremos não apenas os algoritmos se tornando mais inteligentes em tarefas jurídicas, mas o surgimento de verdadeiros sistemas de IA multimodais, que transformarão a maneira como advogados e escritórios atuarão.
As plataformas que hoje apenas leem documentos, passarão a processar e analisar tudo e de forma simultânea, desde vídeos de depoimentos a demonstrações financeiras, sequências de mensagens de e-mail a registros corporativos, ou seja, todos os pontos de conexão que os advogados humanos poderiam eventualmente deixar passar.
É como ter um assistente brilhante, tipo o "Mike Ross" da série Suits, que é capaz de identificar instantaneamente inconsistências entre a declaração de uma testemunha e a sua linguagem corporal em um vídeo, enquanto faz referência cruzada com documentos relacionados.
Hoje já existem sistemas de IA reduzindo semanas de cronogramas due diligencies, ao analisar uma quantidade enorme de dados de forma holística, sinalizando riscos que poderiam passar despercebidos por revisões humanas tradicionais. O escritório Minter Ellison, por exemplo, usa uma IA que analisa 3.500 documentos jurídicos por hora.
Além disso, esses sistemas reduzem drasticamente os riscos de alucinação, pois são capazes de validar informações cruzadas em vários formatos e fontes.
Não é apenas um trabalho jurídico mais rápido, é um trabalho jurídico mais inteligente e completo que está transformando a maneira como as empresas entregam valor aos clientes.
Embora nenhum sistema de IA seja completamente livre de alucinações, os advogados agora podem trabalhar com níveis cada vez maiores de confiança ao usar as principais plataformas jurídicas de IA.
A plataforma da JusBrasil, por exemplo, tem uma funcionalidade de verificação integrada que torna a verificação cruzada perfeita e eficiente, ou seja, você submete um contrato ou petição, sua ou da outra parte, e o Jus IA confere todas as citações, apontando se houver alguma que não seja verdadeira ou esteja equivocada.
Conclusão
Concluindo, o próximo grande salto da tecnologia jurídica não será sobre novas ferramentas "mais do mesmo", mas a integração perfeita de tudo o que os advogados já usam.
Acredito que haverá um movimento de consolidação, com grandes ferramentas se unindo e criando algo ainda maior e melhor juntas, como foi a recente aquisição da Oystr pela Softplan. Imaginem o que será da combinação de uma das empresas com o maior banco de dados do Brasil com outra que possui mais de 800 robôs de RPA para atividades jurídicas?
Vamos ver o surgimento de “plataformas de prática unificadas” que finalmente resolverão a fragmentação que assola os escritórios de advocacia, isto é, os novos sistemas serão para a advocacia o que a Salesforce fez para as equipes de vendas: uma interface para tudo.
Imagine isso: uma plataforma única onde seu gerenciamento de documentos, controle de tempo, comunicações com clientes, processos judiciais e faturamento funcionam juntos! Você elabora um documento e o sistema registra automaticamente seu tempo, atualiza o portal do cliente, sinaliza prazos relevantes e até sugere precedentes semelhantes do banco de dados do seu escritório. Cada ação que você toma é atualizada em todo o sistema em tempo real.
O futuro não apenas tornará os advogados mais eficientes, ele transformará a forma como os serviços jurídicos são entregues e rastreados.
As 03 grandes ondas que atingirão a advocacia até 2035
De acordo com o estudo "The Future of Law Firms - 2025" da Thomson Reuters, a inteligência artificial generativa causará um impacto de 03 grandes ondas nos escritórios de advocacia nos próximos 10 anos, sendo que em 2035 sobreviverão apenas os "vencedores da IA".
Esse estudo leva em conta que as ferramentas de IA, treinadas com o principal insumo do trabalho jurídico (o texto), ficarão cada vez melhores e, junto com ferramentas de automação, farão boa parte das tarefas hoje realizadas pelos advogados.
É nesse contexto que surge a Advocacia 6.0, que é a 6ª geração de advogados brasileiros que atuará em conjunto com as máquinas, em uma verdadeira simbiose, para entregar serviços jurídicos mais ágeis, mais precisos e mais satisfatórios para os seus clientes.
Venha entender a disrupção que acontecerá no mercado jurídico nos próximos anos e como você pode se adequar rapidamente a ela:
Obrigado!
Mauro Roberto Martins Junior
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