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A equipe jurídica dos sonhos em tempos de IA é aquela que prioriza o lado humano

  • Foto do escritor: Mauro Martins
    Mauro Martins
  • 9 de ago.
  • 3 min de leitura
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Hoje é celebrado o Dia da Advocacia e, diante do avanço da tecnologia na nossa profissão, já é hora de parar de dizer que "a I.A. vai substituir os advogados" e eu vou explicar o porquê.


Os líderes das organizações jurídicas, como sócios de escritórios e diretores de departamentos jurídicos de empresas devem entender que montar a equipe certa com as capacidades certas é o aspecto mais negligenciado da implementação da inteligência artificial jurídica e, muitas vezes, o mais decisivo.


Não se trata apenas de contratar os profissionais corretos, mas de reinventar as habilidades, a estrutura e a cultura que impulsionam a prática jurídica.


A integração da IA à rotina dos advogados cria uma demanda por habilidades que não existiam nas organizações jurídicas tradicionais.


A Inteligência Artificial está exigindo a inclusão de especialistas técnicos às equipes jurídicas, além de desenvolver capacidades híbridas que conectam múltiplos domínios:


  • Fluência técnica: Compreensão das capacidades e limitações das ferramentas de IA


  • Domínio jurídico: conhecimento profundo do direito substantivo e da prática jurídica


  • Design de processos: Capacidade de reimaginar fluxos de trabalho e sistemas


  • Gestão de mudanças: habilidades para impulsionar a adaptação organizacional


  • Governança de dados: compreensão da qualidade e gestão de dados


No entanto, os líderes não devem se preocupar em encontrar profissionais que reúnam todas essas habilidades (elas raramente existem).


O ideal é se concentrar em forma uma equipe que, coletivamente, cubra essas capacidades, ao mesmo tempo em que cria um conhecimento compartilhado suficiente para contribuir e atuar de forma eficaz.


As iniciativas de inovação jurídica mais bem-sucedidas repensam as estruturas organizacionais tradicionais e três modelos que se mostram mais eficazes são:


Modelo de Equipe Permanente


Nessa estratégia, criamos equipes multidisciplinares combinam expertise jurídica, técnica e operacional em grupos permanentes e dedicados.


Ao invés de ter departamentos separados que colaboram ocasionalmente, essas organizações criam equipes permanentes, onde diferentes perspectivas são continuamente integradas.


Essas equipes incluem advogados, analista de dados, desenvolvedores, designers, linguistas e especialistas em relacionamento com o cliente. Essas equipes são responsáveis por todos os fluxos de trabalho, desde a captação de clientes até a entrega e o feedback, garantindo que a tecnologia atenda às necessidades do negócio.


A vantagem desse modelo é a integração profunda e o contexto compartilhado, porém exige uma mudança cultural significativa e um comprometimento maior da liderança.


Modelo de Equipe Central


Essa estrutura contempla uma equipe central de inovação/tecnologia que se associa a grupos de prática jurídica por meio de pontos de contato que compreendem ambas as áreas.


A equipe central fornece o conhecimento técnico e padrões consistentes, enquanto os pontos de contato garantem que as soluções atendam às necessidades específicas da prática.


Esse é frequentemente o modelo visto em centros de inovação em tecnologia jurídica, onde os líderes colaboram com grupos de prática jurídica selecionados, enquanto ainda exercem a advocacia e atuam como tradutores entre capacidades técnicas e necessidades práticas.


A vantagem desse modelo é que ele equilibra a expertise centralizada com os conhecimentos específicos da prática, mas exige seleção cuidadosa e suporte de funções com limites.


Modelo de Equipe Mista


Por fim, temos uma estratégia que opta por não ter todas as capacidades internamente, mas cria uma rede selecionada de parceiros, fornecedores e especialistas que são utilizados de acordo com a necessidade.


O escritório ou departamento jurídico mantém expertise central técnico-jurídica, ao mesmo tempo em que utiliza recursos externos para capacidades especializadas, como a análise de dados e a geração de relatórios de jurimetria, por exemplo..


Uma pequena equipe interna se concentra em estratégia e governança enquanto usa uma rede de fornecedores especializados para implementação das inovação, a fim de desenvolver processos padronizados que permitem a rápida incorporação de conhecimento externo.


A vantagem desse modelo é a flexibilidade e a expertise especializada sem custos fixos, mas exige fortes capacidades de gestão de fornecedores e padrões claros.


É importante deixar claro que esses modelos não são mutuamente exclusivos. Abordagens híbridas podem ser implementadas para atender a necessidades e restrições específicas, ou seja, a depender do contexto, o escritório ou departamento jurídico pode ter uma equipe de inovação enxuta, terceirizando para parceiros aquelas tarefas que não realiza internamente.


O Caminho a Seguir


Os projetos de inovação jurídica mais bem-sucedidas que eu vi foram aqueles que tiveram a clareza de reconhecer que a transformação tecnológica é, na essência, uma transformação humana.


Os escritórios e departamentos jurídicos que investirem criteriosamente na construção de capacidades híbridas, na reformulação de estruturas de equipe e no desenvolvimento de funções críticas, estarão preparados para alcançar todo o potencial da tecnologia.


Não se trata de substituir profissionais do direito por tecnólogos ou vice-versa. Trata-se de criar novas formas de colaboração que potencializem os pontos fortes únicos de ambas as áreas, ao mesmo tempo em que abordam os desafios complexos da prática jurídica em um futuro impulsionado pela tecnologia.


As organizações jurídicas que acertarem tanto no elemento humano, quanto na adoção das novas tecnologias, serão aquelas que vencerão essa.


Mauro Roberto Martins Junior

 
 
 

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