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A Inteligência Artificial pode elevar as habilidades dos advogados assim como fez com os jogadores de xadrez e Go?



Em 10 de fevereiro de 1996, um marco histórico capturou a atenção do mundo: Garry Kasparov, considerado um dos maiores enxadristas de todos os tempos, foi derrotado pelo supercomputador Deep Blue da IBM (foto do artigo).


Essa partida evidenciou o potencial da inteligência artificial (IA) para superar habilidades humanas em jogos intelectualmente desafiadores.


Poucos anos depois, em 2016, o AlphaGo, desenvolvido pelo Google DeepMind, repetiu esse feito ao vencer Lee Sedol, um dos melhores jogadores de Go, no que é considerado o jogo de estratégia mais complexo do mundo.


Esses eventos não apenas sublinharam a superioridade da IA em contextos específicos, mas também revelaram como ela pode influenciar e elevar as habilidades humanas.


O que é mais interessante é a forma como jogadores humanos, mesmo após serem superados, aprenderam com essas máquinas, adaptaram-se e elevaram seu desempenho.


Agora, surge a questão: poderia a IA causar um impacto semelhante na área jurídica?


O que aprendemos com xadrez e Go


A influência da IA no xadrez remonta às partidas de Kasparov contra o Deep Blue, em 1996 e 1997. Desde então, jogadores humanos passaram a usar programas de IA não apenas como oponentes, mas como ferramentas para treinar e melhorar suas estratégias.


Softwares como o Komodo, com um coeficiente Elo de 3.350 (superando amplamente o de 2.850 do atual campeão mundial Magnus Carlsen), tornaram-se aliados na análise de partidas, identificação de erros e exploração de novas possibilidades no jogo.


No Go, a contribuição da IA foi ainda mais revolucionária. Após a vitória do AlphaGo em 2016, jogadores humanos passaram a adotar estratégias inspiradas pelos movimentos incomuns e contraintuitivos da IA.


Um estudo publicado em 2021 na Proceedings of the National Academy of Sciences USA analisou mais de 5,8 milhões de jogadas registradas desde 1950 e constatou que, após 2017, a qualidade das decisões humanas melhorou significativamente.


A IA não apenas introduziu novas possibilidades, mas também desafiou os jogadores a repensarem suas abordagens tradicionais.


A IA e o impacto no Direito


Assim como o xadrez e o Go, a advocacia é uma disciplina que combina criatividade, estratégia e rigor intelectual.


Embora o campo jurídico seja substancialmente diferente de jogos com regras fixas, a IA já está mostrando seu potencial para transformar a profissão.


Ferramentas como o ChatGPT, introduzido pela OpenAI em novembro de 2022, e sistemas específicos para revisão de contratos, pesquisa jurídica e previsão de resultados legais estão revolucionando a maneira como os advogados trabalham.


1. Análise de dados e identificação de padrões


Nos tribunais, a IA pode processar vastas quantidades de dados para identificar padrões e fornecer insights.


Por exemplo, plataformas que analisam jurisprudências ajudam os advogados a desenvolver argumentos mais robustos, assim como os jogadores de xadrez usam bancos de dados de partidas para refinar suas táticas.


Isso é comparável à sala cheia de computadores do programador Mark Lefler, cujo Komodo joga milhares de partidas para melhorar continuamente.


2. Treinamento e aprendizado


Assim como os jogadores de xadrez e Go melhoraram estudando os movimentos da IA, os advogados podem usar sistemas de IA para simular cenários jurídicos.


Por exemplo, ferramentas que avaliam contratos e apontam inconsistências funcionam como professores particulares, treinando advogados a identificar problemas com maior precisão.


Assim como Steven Cramton e Zackary Stephen combinaram habilidades humanas com a assistência da máquina para vencer um torneio de xadrez, advogados podem combinar conhecimento jurídico com a análise poderosa da IA.


3. Expansão da criatividade e da inovação


No xadrez, a IA desafiou ideias preestabelecidas, mostrando novas abordagens para problemas antigos.


No Direito, modelos de IA generativa, como o ChatGPT, podem inspirar novos argumentos e redações criativas de petições ou pareceres. Eles não substituem a criatividade humana, mas fornecem um ponto de partida.


4. Preparação para riscos e desafios


Assim como a trapaça se tornou um problema nos torneios de xadrez, o uso inadequado de IA no Direito também apresenta riscos.


Decisões automatizadas podem introduzir vieses, e o uso de IA para redigir documentos ou realizar pesquisas precisa ser supervisionado por humanos para garantir precisão e ética.


5. Atendimento e experiência do cliente


Recentemente, viralizou na internet o post de um empresário que comparava o atendimento de um advogado à experiência que ele teve com a ferramenta de Inteligência Artificial Claude, da Anthropic, que dizia o seguinte:


Recentemente, contratei um advogado para me dar uma opinião sobre uma questão pessoal de estrutura corporativa. Ele levou 3 semanas, escreveu um memorando confuso e complicado, insistiu em uma ligação de uma hora. Depois, me cobrou US$ 5.000. Fiz a mesma pergunta ao Claude. Claude me deu uma resposta perfeita. Basicamente, ele disse a mesma coisa, só que instantaneamente e de forma fácil de entender. Descanse em paz, grande parte do trabalho jurídico.


Apesar da revolta de muitos advogados, a verdade é que o nível do que é satisfatório, em termos de serviços, será sempre definido pela expectativa dos clientes. E os clientes de hoje, acostumados com ferramentas digitais, querem tudo mais rápido, mais barato e, mesmo assim, ainda melhor.


Em outras palavras, a Inteligência Artificial deve influenciar em mudanças na experiência do cliente de serviços jurídicos durante toda a sua jornada, tornado a advocacia mais eficiente, ágil, simples e arrojada.


O futuro: uma parceria entre humanos e máquinas


A lição mais importante do xadrez e do Go é que humanos e máquinas não precisam ser adversários; podem ser parceiros.


No Direito, essa parceria é essencial para lidar com o volume crescente de informações e a complexidade dos problemas jurídicos modernos.


Assim como Magnus Carlsen usa IA para treinar antes de suas partidas, advogados podem usar ferramentas de IA para aprimorar suas habilidades, desenvolver estratégias mais eficazes e oferecer um serviço mais eficiente e acessível aos clientes.


Embora a IA não substitua o julgamento humano, pode elevar a profissão jurídica a um novo patamar, ajudando os advogados a se tornarem mais eficazes, inovadores e resilientes em um mundo em constante mudança.


A história do xadrez e do Go mostra que o futuro não é um confronto entre homem e máquina, mas uma colaboração que combina o melhor de ambos os mundos.

Se o passado nos ensinou algo, é que a inteligência artificial não apenas desafia nossas limitações, mas também amplia nosso potencial.


Assim como jogadores humanos superaram a derrota para aprender e crescer, os advogados têm a oportunidade de usar a IA para transformar sua prática e construir o futuro do Direito.


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Mauro Roberto Martins Junior


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